por Baleia Rossi
Pode ser um trajeto longo ou curto, mas qualquer viajante sempre planeja para onde vai, como vai, com quem vai e calcula o tempo até a chegada. De antemão, sabe por que vai. É tudo muito óbvio. Aliás, se alguém não consegue responder a essas perguntas, é no dia a dia incluído no rol dos malucos. Mas, na política, essas respostas nem sempre estão claras.
Algumas vezes, porque faz parte do jogo esconder as cartas. Em outras, porque não se sabe o rumo — e é melhor não confessar que se está perdido.
As perguntas que devemos fazer, agora, são sobre o destino do Brasil. Onde o país está nós sabemos. Ele emergiu da pior crise econômica da história para mergulhar ainda mais no fundo do poço por causa da pandemia de Covid-19.
Entramos em 2021 listados entre os piores no combate à pandemia e como celeiro de variantes do vírus. Sairemos do buraco, sim, mas estaremos enlutados, mais pobres, mais desiguais e com um caminho ainda mais espinhoso à frente.
Depois que voltarmos à tona — ou seja, depois que os brasileiros forem vacinados — será preciso seguir em frente, mas para onde?
Os partidos políticos existem para oferecer soluções a essas indagações. As do MDB — que comemora 55 anos neste 24 de março — passam pelas reformas da Constituição de 1988, a Carta de que foi o principal artesão.
Nossa legenda sabe que é preciso criar condições para que a economia volte a crescer; as empresas, a prosperar; os empregos, a surgir; e a renda das pessoas, a aumentar.
Embora necessárias, as mudanças são dolorosas. A criação do teto de gastos públicos e as reformas trabalhista e da Previdência impuseram perdas. A do ensino médio também precisou de muito diálogo. Todas, porém, contribuem para a retomada do desenvolvimento.
O Brasil precisa de mais reformas. Por isso, eu propus o projeto da reforma tributária que está em discussão e tem grandes chances de vingar. Há um consenso inédito entre os deputados e os governos estaduais sobre a saída.
Se a União se empenhar um pouco, a reforma será aprovada, e o país terá um potencial de crescimento muito maior que o atual. A reforma administrativa proposta pelo governo deve ser amplamente debatida, pois é um passo para reduzir o peso do Estado sobre uma sociedade que precisa gastar mais com educação, saúde e segurança.
A Constituição precisa ser modernizada, sim. Mas também precisa ser defendida. Sua direção é clara na defesa dos direitos individuais, massacrados durante os tenebrosos 21 anos de ditadura.
Seu norte é a inclusão e a redução das desigualdades sociais, e não o modelo de concentração de renda do regime militar. É de preservação ambiental, e não da ocupação predatória.
O Brasil tem de escolher com que roupa se apresenta ao mundo, e não pode ser a esfarrapada de quem não luta pela equidade social e dilapida a natureza. O país será duramente confrontado em dezembro na conferência do clima, que será realizada em Glasgow, a COP26.
Estará em jogo não apenas uma questão moral, de compromisso com o futuro do planeta. Estará também o futuro do agronegócio brasileiro, esteio de nossa economia.
Os países ricos não tolerarão que o país siga no caminho do Dia do Fogo, o despautério perpetrado por devastadores em 2019. Ou nos comprometemos com o ambiente ou veremos outras instituições financeiras seguirem o caminho do Danske Bank, que puniu as multinacionais do agronegócio Cargill, ADM e Bunge por atuarem numa nação que depreda o ambiente.
O Brasil foi o último país do Ocidente a abolir a escravidão. Paga essa dívida com vergonha e pobreza. É loucura repetir esse caminho com o desmatamento desenfreado. Párias internacionais não enriquecem nem se desenvolvem.
Não podemos ter uma recidiva da mesma cegueira que nos acometeu no século XIX.
Quem quer dirigir o Brasil para o futuro tem de manter os olhos abertos e saber para onde quer ir. Aos 55 anos, o MDB sabe. Decidiu por sua independência e a manteve mesmo quando muitos duvidaram dessa decisão.
Continuará assim, colaborando com o Executivo nas pautas que forem boas para o país e se encaixarem no plano de desenvolvimento que o partido apresentou.
Não se trata de oposição nem de adesão, mas de vislumbrar um destino para o Brasil. O MDB vê essa imagem no horizonte. E vai persegui-la sem concessão e sem confrontação.
Deputado federal (SP) e presidente nacional do MDB