Artigo de autoria do presdente Baleia Rossi para Folha de São Paulo
“A Câmara não tem dono, não se ajoelha; chefe, só um: o eleitor”
O Brasil está em uma encruzilhada. Precisamos de um projeto de país —e não de poder— para superar a pandemia e seguirmos em frente. Caso contrário, corremos o risco de embarcar em mais uma década de tragédias sociais e baixo crescimento.
O caminho que vamos tomar começa a ser definido na escolha do presidente da Câmara dos Deputados.
Há alguns anos, as eleições para o comando da Casa eram disputadas longe dos olhos do público. Isso mudou. A sociedade voltou sua atenção ao Congresso porque está vigilante e participativa. O mesmo se deu entre os congressistas. A Câmara assumiu o protagonismo das decisões políticas. Graças ao trabalho do Legislativo, o Brasil não ficou à deriva.
A missão do presidente da Casa é criar pontes. Por meio do debate democrático, diferentes visões podem chegar ao consenso. O diálogo com o governo pode fluir sem perturbações, mesmo quando há divergências. É assim que tenho pautado minha vida parlamentar: pelo equilíbrio.
Há duas candidaturas com mais apoios para presidir a Câmara. A de Arthur Lira (PP-AL), que propõe subserviência ao governo em troca de alguns cargos, e a minha. Represento 11 partidos. É um bloco heterogêneo, que vai da esquerda, passa pelo centro e chega à direita. Em comum, temos a convicção de que só exerceremos nosso mandato se a nossa relação com o governo federal e o Judiciário se pautar pela independência e pela harmonia.
As diferenças entre nossas candidaturas não cessam aí. Do outro lado, falta ao candidato governista uma visão de país. Ele se associou a lideranças que passaram os últimos meses em campanha aberta contra a vacinação, semeando o ódio, estimulando uma ruptura social e defendendo pautas que não são prioridade. Desde que anunciei minha candidatura, essas lideranças distribuem fake news e mentiras por meio de sua rede de ódio.
Muitos brasileiros sobreviveram em 2020 graças ao auxílio emergencial. Chegaram em 2021 na porta do abandono. Foi a Câmara quem trouxe o amparo. Não pode faltar agora. É preciso encontrar recursos para atendê-los e, ao mesmo tempo, recuperar o rigor fiscal e a previsibilidade da economia. A PEC Emergencial também é prioritária.
A Câmara tem muito a fazer. A decisão da Ford de sair do país revela a necessidade de melhorarmos o ambiente de negócios. O sistema de impostos pesa. Temos de levar adiante a reforma tributária. Está pronto para ser votado relatório do deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) sobre a PEC 45, que apresentei a fim de substituir cinco impostos por apenas um.
Precisamos de um projeto que aponte para o crescimento, a geração de emprego, a vacinação em massa, o cuidado com os mais pobres, a retirada das amarras que seguram os empresários, o combate às desigualdades regionais e a criação de oportunidades por meio da educação.
Isso só ocorrerá se os deputados puderem exercer seus mandatos em plenitude. A Câmara não tem dono. Não se ajoelha. Os deputados representam os eleitores. A presidência da Casa deve estar a serviço deles, e não de outros. A Câmara deve ser parceira dos outros Poderes. Chefe, só um: o eleitor.
A missão da Câmara é encontrar saídas neste tempo desafiador. Na democracia, melhora-se a vida das pessoas com prosperidade e liberdade. Esse é o sentido dos mandatos que o povo nos conferiu e da minha candidatura.